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Skam França – o casal Maya e Lola e a infelicidade dos casais sáficos

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“Skam França” é um remake da série norueguesa “Skam”, que teve início em 2018. A produção tem um enredo focado em um grupo de amigos, em que cada temporada teria enfoque em um desses personagens, se aprofundando em sua história, e explorando sua visão da relação com os outros.

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É na sexta temporada que somos apresentados a novos personagens que irão assumir a nova geração da série, e temos como protagonista Lola Lecomte (Flavie Delangles), irmã de Daphné (Lula Cotton-Franpier), uma das personagens que conhecemos desde o começo. Com esta nova protagonista vem a possibilidade de se explorar diversas questões, como a difícil relação com a família, o uso de drogas, os hábitos autodestrutivos, assim como o amor sáfico.

Lola conhece Maya (Aymi Roux) enquanto faz serviço comunitário, e desde o início percebemos que elas se interessam uma pela outra, mesmo que as personagens acreditem se tratar apenas de uma amizade. Maya é o oposto de Lola, mora sozinha, se sustenta, não usa drogas, é bem responsável, e muito devota das causas que buscam salvar o planeta.

Essa relação nos envolve desde o começo, vemos Lola detestar todos que tentam se aproximar dela, salvo algumas exceções, como o amigo de sua irmã Eliott (Maxence Danet-Fauvel) e Maya. Ela ainda se vê impelida a se aproximar dos amigos de Maya para ficar perto dela. E pela primeira vez, vemos Lola se divertir de forma saudável, e se aproximar de pessoas que realmente se importam com ela, e não querem apenas se aproveitar.

A relação delas cresce, e mesmo diante dos autos e baixos, temos um “final feliz” no fim da temporada, o que se perpetua pelo sétimo e oitavo ano da produção. Afinal, vemos um pouco desse casal crescendo e amadurecendo, e principalmente, vemos uma Lola bem em relação a seus vícios e seus diversos problemas.

Mas é na nona temporada, que tem Maya como protagonista, que nos deparamos com o clichê de que mulheres sáficas não podem ter um final feliz, sob a justificativa vazia de que “era uma história que precisava ser contada”. Aparentemente a produção de “Skam França” não conhece todas as histórias já existentes em que o casal sáfico não tem o direito de terminar bem, essa desculpa de explorar uma narrativa de coração partido é descabida.

Nesta temporada, conhecemos esse outro lado de Maya, os traumas psicológicos e os diversos problemas que ela vinha guardando, que finalmente começam a atrapalhar o relacionamento com Lola. Acompanhamos uma Maya deprimida, sem conseguir se relacionar direito com os amigos, e descobrimos seu “grande segredo”, o fato de que não é assumida para sua avó, a única pessoa viva de sua família, e quem foi responsável por sua criação.

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Mas deste ponto para o final da temporada é um delírio dos escritores, afinal, toda a construção dessas personagens, e principalmente, a evolução e crescimento de Lola fora descartado. Pois, em momento algum, temos um diálogo compatível com um casal que se ama e lutou tanto para estar junto.

Maya e Lola era um dos casais mais bem construídos de “Skam França”, vimos Lola lidar com seus vícios, se aproximar e deixar que a irmã a amasse. Assim como vimos Maya lidar com seu trauma com alcoolismo e todas as suas questões com vícios para se permitir lutar e se relacionar com Lola. Ao longo de cada episódio e das temporadas, foi possível perceber o amor intenso entre elas, e como ambas amadureceram na relação.

Todo o enredo construído não importou para os roteiristas, porque tudo isso foi esquecido no churrasco, e simplesmente focaram em uma Lola que só sabia gritar, e completamente impaciente para lidar com alguém claramente deprimido; e uma Maya que não parecia Maya.

É sempre muito triste perceber como alguns escritores não compreendem a importância de seus personagens para seu público. É claro que histórias tristes e de corações partidos precisam ser contadas, mas por qual motivo essas histórias tem que ser com o casal sáfico feliz e bem construído?

Enquanto temos que lidar com as inúmeras histórias de casais sáficos em que o amor não é o bastante para mantê-las juntas como Callie (Sara Ramirez) e Arizona (Jessica Capshaw), Lexa (Alycia Debnam-Carey) e Clarke (Eliza Taylor), Malu (Mirela Pizani) e Nara (Amanda Döring)); temos também que aturar histórias de casais héteros que, aparentemente, o amor é o laço mais forte e indestrutível que existe, mesmo que as relações sejam claramente problemáticas, e muitas vezes, insustentáveis como Olivia Pope (Kerry Washington) e o Presidente (Tony Goldwyn), Derek (Patrick Dempsey) e Meredith (Ellen Pompeo).

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No fim, por mais que defendam o direito de contar essas narrativas com casais sáficos, também defendo que os próximos criadores olhem para as produções sáficas e percebam que todas essas de amores impossíveis e corações partidos já foram contadas. Agora, precisamos de histórias que nos mostrem a possibilidade de amar e viver, e de como o nosso amor também pode ser o laço mais forte e indestrutível que existe.

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