“Hate crimes are hate crimes. No matter the race.”
A quarta temporada de “Station 19”, assim como “Grey’s Anatomy”, apresentou o corpo de bombeiros durante a pandemia do Covid-19, enfrentando novas dificuldades no trabalho e na vida pessoal, além de estarem vivendo o luto de ter perdido Pruitt Herrera (Miguel Sandoval) na temporada passada.
Andrea (Andy) Herrera (Jaina Lee Ortiz) é uma protagonista sofredora (igual a Meredith Grey (Ellen Pompeo)) e depois de perder o pai em serviço, temos a grande revelação que sua mãe, que ela acreditava estava morta, na verdade, está viva e a abandonou na infância. A ideia de que sua mãe iria suprir uma falta na sua vida é destruída quando Andy se recusa a construir um relacionamento com a mãe, porém decide se reaproximar da família da sua tia. Paralelo a isso, em sua vida amorosa, ela se vê afastada do seu esposo, Robert Sullivan (Boris Kodjoe), que está lutando pela recuperação e seu lugar novamente na Estação 19 após ser rebaixado do posto.
Os outros bombeiros, como Benjamin (Jason George) e Jack (Grey Damon), também apresentam problemas no mundo dos romances. O primeiro sofre pelo distanciamento de Bailey (Chandra Wilson), sua esposa, como também é retratado rapidamente a possibilidade do personagem ter câncer (o que ele não tem). O segundo está desenvolvendo um romance com a mulher que “salvou” de um relacionamento abusivo na temporada passada. A relação não dura muito tempo, pois sua pretendente vai embora da cidade e Jack continua tendo problemas para lidar com questões emocionais. Nesta temporada, o personagem de Damon foi deixado em segundo plano.
Diferente de Jack, os bombeiros Travis Montgomery (Jay Hayden), Victoria Hughes (Barrett Doss) e Dean Miller (Okieriete Onaodowan) tiveram mais destaque este ano. Travis, desde a primeira temporada de “Station 19” enfrenta o desprezo de seus pais em relação a sua orientação sexual, entretanto, agora ele lida com a recente descoberta que seu pai, que sempre foi homofóbico, na verdade é gay e esconde de todos. O drama familiar entre os dois percorre toda a temporada, em que Travis quer que o pai assuma o que verdadeiramente é para sua mãe. Além disso, outro drama envolve o personagem, sua melhor amiga Vic está se abrindo novamente para o amor e a pessoa que ela começa a se envolver é um ex-amigo do falecido esposo de Travis, o que causa uma intriga entre eles.
Ao se tratar de Dean, sua história este ano foge da ideia de ser apenas um homem cuidando da filha sozinho e se abre para pautas mais importantes, como o racismo. Depois de sofrer preconceito racial ao tentar salvar adolescentes do tráfico, ele resolve processar os responsáveis, o que desencadeia uma luta entre o batalhão de polícia e bombeiro. A partir desse momento, a série dá uma aula sobre racismo e privilégio.
“Station 19” está encontrando seu caminho e debatendo pautas importantes, como racismo e apagamento da mídia ao tratar esses casos como banais, quando casos como George Floyd estão aí, mostrando o quanto a sociedade é racista e esconde muito bem. Um exemplo é o episódio 12 da temporada que é poderoso, sensível, importante e demonstra perfeitamente o poder da produção e que ela consegue caminhar sozinha, não sendo apenas uma imitação barata de “Grey’s Anatomy”.
Na terceira temporada de “Station 19” observamos Maya Bishop (Danielle Savre), Capitã da Estação 19, ter um colapso ao perceber que seu pai era abusivo na sua infância, o que ocasiona na repetição do plot de traição quando ela trai Carina DeLuca (Stefania Spampinato) com seu ex e colega de batalhão, Jack. Ainda no final da temporada, o casal se reconcilia em uma cena patética, em que Maya corre atrás de Carina pedindo desculpas e de cabelo cortado, como se o corte tivesse mudado drasticamente sua percepção de mundo.
Ao retornarmos para a quarta temporada, a sensação que dá é que os roteiristas passaram uma borracha na traição que ocorreu e seguiram a história como se nada tivesse acontecido. A traição só é citada, no máximo, duas vezes, e o processo de redenção da personagem de Savre nem existe, pois o que aconteceu na season finale do ano passado não pode e nem deve ser enxergado dessa forma.
É perceptível, que este ano, ao se tratar do relacionamento entre as duas, buscaram trazer um desenvolvimento mais leve, sem intrigas e de perdão. Entretanto, não é bem assim. Colocar Carina como personagem regular em uma série de bombeiro não é das melhores escolhas, sendo que ela não tem espaço para atuar em sua profissão de médica e parece que apenas está na produção para ser o par romântico da bombeira.
“Station 19” ainda abusa de mais uma repetição de plot entre duas mulheres: uma quer filho e a outra não quer. O casamento lindo que ocorreu entre as personagens não descarta a possibilidade de conflito relacionado a maternidade mais a frente, considerando que elas se casaram as pressas para conseguir um visto para Carina e esta conseguir permanecer no país. Espera-se que, desta vez, o tema seja abordado de forma saudável e não repitam a história batida que já vimos em milhares de séries e principalmente, entre Callie (Sara Ramírez) e Arizona (Jessica Capshaw), em “Grey’s Anatomy”.
Apesar de todas as falhas no quesito representatividade positiva, a história de Maya e Carina está chamando muita atenção e mesmo que sejam maravilhosas e tenham bastante química em cena, não devemos aceitar representações negativas só para nos sentir ouvidas. “Station 19” é uma série que tem espaço para crescer ainda mais e seguir um caminho próprio, que fuja dos erros da sua antecessora.
A quarta temporada finalizou com um novo drama relacionado a vida profissional de Maya e estamos ansiosas para saber como será retratado essa nova realidade em sua vida. E por favor, que Carina DeLucca tenha histórias pertinentes que não sejam limitadas a uma gravidez de emergência no quartel da Estação 19.
“Station 19” foi renovada para sua quinta temporada e no Brasil vai ao ar pelo Canal Sony.