Considerando um recorte dentro da comunidade LGBTQIA+ e na “bolha lésbica”, quando nos é perguntado qual é o corpo que imaginamos sendo o mais suscetível a receber olhares tortos, comentários maldosos, exclusão, e muitos outros atos como esses que são considerados homofobia-lesbofobia, talvez para muitas pessoas não é preciso refletir muito sobre a aparência da pessoa que é alvo disso. Possivelmente, logo vem à memória o estereótipo de uma pessoa com o cabelo curto e trejeitos que compõem uma mulher desfem. Qual o motivo e os efeitos de comportamentos considerados negativos serem quase sempre associados à mulheres que não performam feminilidade?
Pro Mundo (Out!) | Poussey Washington – uma história para sempre recordar
Esse ser “desfem” pode ser explicado como todo aquele trejeito que foge a norma da feminilidade, que é imposta pela sociedade, como o cabelo grande, roupas socialmente consideradas femininas e aspectos semelhantes; a desfeminilidade vai de encontro contrário a isto (mas lembrando que cada um pode ter uma visão diferente do que é esse ser). Falando sobre representatividade, quantas dessas mulheres, que apresentam esses aspectos de desfeminilidade, vemos (atualmente e ao longo da história) no top de charts de música? Ou sendo premiadas e reconhecidas por papéis no cinema?
Ao longo do tempo também vemos, nos filmes e séries sáficos, os comportamentos negativos sendo associados a mulheres assim, como em (horrível né? pode se falar aqui) “Azul é a Cor Mais Quente”, como na produção mais recente “The L Word: Generation Q”, nesta última a personagem Sarah Finley (Jacqueline Toboni) performa todo o estereótipo formado de atitudes negativas tomadas nos relacionamentos e sua relação com vícios também.
Resenha | A construção de mim mesma: uma história de transição de gênero – uma autobiografia profunda e delicada
Para muitas, os primeiros contatos e impressões sobre se relacionar com outras mulheres se dão através das mídias visuais (filmes e séries) e leituras que consumimos. Por isso devemos estar atentas a como podemos tentar parar, no meio LGBTQIA+ que vivemos, esse ciclo de associar tudo de ruim que acontece à mulheres desfeminilizadas, para que, desta forma, não haja o reforço do estereótipo, e principalmente não aconteça o sofrimento de mulheres desfem quanto a isso.
Um conteúdo representativo, ou a falta dessa representatividade, pode ter efeito nas pessoas que estão no início de descoberta das suas sexualidades, e buscando mesmo que, inconscientemente, referências. Quando formada uma má referência quanto a isso, um dos possíveis efeitos é a baixa autoestima e os desdobramentos dessa, já que mal temos uma representatividade positiva mostrando essa possibilidade de existir.