Encontrar livros do gênero Young Adult com temática LGBTQ+ se tornou um desafio e basicamente um estimulante para conseguir associar minha vida de estudante com minha vida leitora. “Estamos bem” é um livro da autora Nina LaCour, lançamento de 2017 pela editora Plataforma 21. A história gira em torno de Marin, uma garota que está em depressão profunda e em um momento bem difícil da vida.
Ela deixou tudo para trás, o calor da Califórnia, a casa do avô na praia, o corpo da melhor amiga Mabel e toda segurança e vida que conhecia. Desde então, faz três meses que tem vivido no alojamento da faculdade e dividido o espaço com sua colega de quarto Hannah. Ao chegar as férias de inverno, Marin não tem para onde ir e planeja passar todo o recesso sozinha, até que sua amiga Mabel, aquela que mais a conhece no mundo e com quem experimentou um breve romance, avisa que está indo visitá-la e ela não sabe como lidar com isso.
A primeira conversa que elas tiveram começou com Mabel segurando a mão de Marin para examinar suas unhas, que ela tinha pintado pouco tempo antes, dourada com luas prateadas. A amizade entre elas surgiu com uma tentativa falha de imitar a pintura nas unhas de Mabel e foi evoluindo para algo até então desconhecido entre as duas. Desde que se conheceram, adoravam a simetria dos seus nomes. Uma consoante, uma vogal, uma consoante, uma vogal e uma consoante. Achavam importante e era como se o destino tivesse trabalhado minuciosamente nisso.
Durante a história de Marin, temos flashbacks entre seu último verão na Califórnia e seu presente em Nova York, mostrando como era seu relacionamento com seu avô, que faleceu de forma inesperada e como a amizade dela com Mabel se tornou algo mais até acabar. O relacionamento desenvolvido pelas duas, mesmo que em segundo plano, foi abordado de forma natural e sutil. “Estamos bem” não é um livro feliz, não é sobre sair do armário ou um romance impossível, mas consegue trazer uma representatividade de maneira correta e positiva. A história é sobre amizade, família e principalmente, luto e solidão. Marin beija garotas e tudo bem, mas a base central do livro não é sua sexualidade.
A trama construída por Nina LaCour é para expressar uma dor que parece nunca ter fim, a ponto de acharmos que não tem mais solução. Navegamos em uma confusão de sentimentos e problemas internos retratados por Marin e assim somos absorvidos pela curiosidade de descobrir o que realmente aconteceu com a personagem e seus motivos a deixar tudo para trás. A narrativa do livro é lenta, sensível e até poética, consegue mostrar que personagens LGBTQ+ podem existir em histórias que o foco principal não seja a descoberta da sua sexualidade e não precisa ser descrita de forma forçada.