Uma garota sendo proibida de ir ao baile do colégio com a namorada. Parece absurdo que em pleno 2020 uma história como essa ainda se repita, mas, infelizmente, essa ainda é uma realidade presente na vida de tantas pessoas. “The Prom” vem para trazer esperança para o nosso coração, mostrar que apesar dos problemas é possível construir algo lindo e positivo através do amor e respeito ao próximo.
Na peça musical que chegou aos palcos da Broadway, em 2018, somos apresentados a Emma Nolan, uma adolescente que mora em uma pequena cidade de Indiana chamada Edgewater, nos Estados Unidos. Ser a única lésbica assumida do colégio nunca foi algo fácil, mas as coisas pioram quando ela é proibida pela aliança de pais do colégio de ir ao baile de formatura com a namorada. Nesse meio tempo, um grupo de quatro atores narcisistas de Nova York chegam à cidade para ajudar a jovem a conquistar seu direito de ir ao baile.
A história criada por Bob Martin e Chad Beguelin traz um humor extremamente afiado e uma história cheia de coração e cores vibrantes, tudo isso para contar algo necessário. O musical não vem mostrar um lado certo e outro errado. Conhecemos um grupo de preconceituosos de Indiana e atores liberais de Nova York, mas, aos poucos, as camadas de cada lado começam a aparecer e percebemos que todos possuem falhas, entretanto, a mensagem por trás disso tudo é a de ouvir o próximo, dividir experiências e aprender com o outro para crescer.
“The Prom” é mais uma prova da importância da representatividade. A importância de ver sua história sendo contada, poder se conectar com as personagens, as vivências. Apesar da cultura de baile de formatura não ser tão forte no Brasil como é nos Estados Unidos, conseguimos nos relacionar com a ideia de não ser aceita em um evento que foi criado para ser totalmente heteronormativo, onde as pessoas vão em casais formados por um homem e uma mulher, com roupas “padrões” para cada gênero.
E enquanto parece que no cinema e na televisão ainda não temos histórias sobre mulheres LGBTQIA+ suficiente, no teatro o número é ainda menor. Existem pouquíssimos musicais que chegaram a Broadway e são protagonizados por personagens lésbicas ou mulheres LGBTQIA+ de modo geral. “Fun Home“, vencedor do Tony Awards (premiação do teatro americano) de Melhor Musical em 2015, é considerado o primeiro protagonizado por uma personagem lésbica. E isso foi há cinco anos, um dia desses. Ainda é um espaço que estamos caminhando em passos pequenos, mas avançando.
E a prova deste avanço está no espaço e reconhecimento que “The Prom” ganhou. Um dos destaques foi a apresentação que aconteceu durante o Macy’s Thanksgiving Day Parade, onde as atrizes Caitlin Kinnunen, que deu vida a Emma Nolan, e Isabelle McCalla, a Alyssa Greene, namorada de Emma, protagonizaram o primeiro beijo LGBTQIA+ da história do evento, entrando em lares de milhões de americanos durante o almoço de Ação de Graças, um momento histórico.
O reconhecimento também veio no Tony Awards de 2019. “The Prom” foi indicado em seis categorias, incluindo Melhor Musical, Direção e Livreto. Caitlin Kinnunen, uma das principais forças dessa peça, que nos entrega uma Emma Nolan memorável, foi reconhecida com a indicação na categoria de Melhor Atriz em Musical.
Filme
Em 2019, um pouco antes da peça deixar os palcos da Broadway, foi anunciado uma adaptação para a Netflix. O projeto dirigido por Ryan Murphy finalmente está próximo de ganhar vida. Com um elenco super estrelado com nomes como Meryl Streep, James Corden, Nicole Kidman, Keegan-Michael Key, Andrew Rannells e Kerry Washington, o longa-metragem vem para ampliar a voz dessa história. A peça, infelizmente, fica muito presa a um seleto grupo que tem condições de ir para Nova York assistir, mas agora ela conseguirá alcançar um público muito maior com a plataforma de streaming.
Além do grandioso elenco, o filme nos apresentará Jo Ellen Pellman, a atriz que viverá Emma Nolan. A escolha de trazer uma novata para o papel principal me agrada muito, além do fato deles terem a sensibilidade de trazer atrizes LGBTQIA+ para os papeis de Emma e Alyssa (que no filme será a Ariana DeBose), algo que vem sendo bastante questionado em outras produções cinematográficas, principalmente pela falta de espaço que existem para pessoas LGBTQIA+ em Hollywood.
A adaptação tem uma pequena polêmica por não ter trazido ninguém do elenco da Broadway, mesmo eles tendo feito testes para seus personagens. Não vou mentir que o meu coração fica triste em não poder ver Caitlin e Isabelle repetindo seus papéis, mas ao mesmo tempo a história é maior do que as pessoas. Nomes como Meryl Streep atraem público e investimento para que o filme seja feito e visto. No final das contas, o que importa é que iremos conhecer, revisitar e amar cada vez mais este universo de “The Prom”.