Acho que não poderiam ter escolhido outro título para o episódio final que representasse mais a série do que este.
Após duas temporadas, a série foi cancelada pela Netflix. Com muito esforço dos fãs, conseguimos um episódio final de 151 minutos. Acho interessante o fato da quantidade enorme de fãs brasileiros que a série possui, visto que o Brasil é o país que mais mata pessoas LGBTs no mundo. A força dos fãs brasileiros em tornar realidade o final da saga é incontestável. Evidencia que nós existimos sim e haverá luta por nossos direitos, por nossas vidas.
“Sense8” nos falou, em suas temporadas, sobre como conviver e se conectar com o diferente. Considero uma série extremamente representativa e que fará uma falta enorme. O show aborda todas as diferenças possíveis e demonstra como é possível vencer o ódio e segregação através do amor e resistência. Dou destaque aqui pela frase de Bodhi (Sarah Kants) no episódio final “neutralidade em face de tanta maldade é cumplicidade”.
É totalmente compreensível que alguns plots tenham ficado um pouco corridos, transformar um enredo de mais três temporadas em um filme não é brincadeira, mas considero mais do que satisfatório o trabalho de Lana Wachowski (“Matrix”) em enxugar tudo num único capítulo e amarrando o maior número de pontas da trama possível.
Seguindo o final da segunda temporada, o capítulo começa com o cluster junto planejando o resgaste de Wolfgang (Max Riemelt) e tendo Milton/Whispers (Terrence Mann) sequestrado. Em paralelo, vemos as lembranças de Wolfie enquanto está nas mãos da BPO. O desenvolvimento da história, a explicação do que aconteceu com Angelica (Daryl Hannah), Jonas (Naveen Andrews), a história da Lacuna e o objetivo da imortalidade perseguido pelo Whispers foram apresentados de forma eficiente. A narrativa foi rápida, contudo, eficaz em responder as principais partes da mitologia dos sensates.
Eu amo o fato de “Sense8” possuir personagens consistentes e bem construídos! A interação do cluster está ótima e a participação dos personagens secundários foi maravilhosa. Fiquei muito feliz em ver as pessoas próximas dos sensates reunidas e ajudando o grupo. A positiva surpresa que foi a aparição de Rajan (Purab Kohli). Hernando (Alfonso Herrera) dando a ideia do cavalo de Troia para atacar o cluster de Lila (Valeria Bilello), a participação de Diego (Ness Bautista), Felix (Max Mauff) e detetive Mun (Sukku Son), Bug (Michael X. Sommers) sendo sensacional. E o que dizer da amizade Amanita (Freema Agyeman) e Dani (Eréndira Ibarra)? Fiquei extremamente impactada com a cena de Dani com Whispers. Acho muito difícil não ser cativado pelos personagens ou pelos atores, que elenco carismático dessa série!
Fiquei TÃO feliz com o casamento de Amanita e Nomi (Jamie Clayton), é tão importante ter um casal de mulheres com um relacionamento saudável! O show mostrou uma relação de amor, carinho, cumplicidade! Sem queerbaits, sem morte, sem traição ou intromissão de um homem na relação. É importante termos um casal como elas representado nas produções audiovisuais. Ver o amor delas ser celebrado na cidade mais romântica do mundo, Paris, na Torre Eiffel me deixou em júbilo.
Foi um afago no meu coração poder ver personagens que representam minorias tendo a permissão de viverem e viverem felizes. Nem preciso dizer que estava em prantos com os votos do casalzinho no casamento e com a mãe de Nomi a chamando por seu nome e a aceitando, né?
Uma das críticas foi em relação às cenas de “suruba”. Desde sua estreia, lá em 2015, vi muitos comentários reduzindo o carinho e amor dos fãs pela série somente por ter cenas de sexo. “Sense8” é muito mais do que essa redução injusta e mentirosa. Considero a série um “Ode ao Amor”. Os tantos e tão diferentes corpos nus se conectando, se tocando e se satisfazendo. A possibilidade de conviver, aceitar e amar o outro apesar de tão diferentes.