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Pro Mundo (Out!) | Shelby Goodkind e o mito da garota perfeita

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Shelby Goodkind (Mia Healey) pode não ser a personagem mais carismática de The Wilds” nos primeiros episódios, mas, conforme vamos conhecendo a garota e seu passado, é impossível não se interessar por sua história. Shelby nos mostra que nem tudo é o que parece ser, nem mesmo a miss texana com a vida perfeita.

A série conta a história de um grupo de garotas que estavam indo para um retiro espiritual e acabam ficando presas em uma ilha deserta por conta de um acidente de avião. A trama é dividida entre três linhas do tempo: a vida das garotas antes da ilha, a ilha, e a quarentena após o resgate.

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Com isso, ao decorrer dos episódios, também acompanhamos o backstory – passado – de cada uma das meninas e como o acidente está afetando suas personalidades e fazendo-as enfrentar seus fantasmas do passado. Para Shelby, esse processo é mais violento do que para as outras. Ao mesmo tempo que estar longe de sua vida real é uma benção para que ela possa entender seus sentimentos, as angústias afetam a garota muito repentinamente, que não consegue lidar com isso muito bem.

Durante os flashbacks da ilha, vemos Goodkind se estranhar com a maioria de suas companheiras. Suas origens, de uma família cristã e extremamente conservadora, seu histórico de concursos de beleza, e sua tentativa constante de estar sempre positiva causa muitos conflitos. 

Em determinado momento, vemos Shelby ser homofóbica com Toni Shalifoe (Erana James), que é abertamente lésbica e faz uma piada de conotação sexual enquanto elas comem ostra. Imediatamente, as outras garotas saem em defesa de Toni, fazendo a outra se afastar ainda mais do grupo.

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Entretanto, no episódio oito, focado em Shelby Goodkind, entendemos de onde essas atitudes surgiram. Apesar de Shelby aparentar ter uma vida perfeita, a realidade está bem longe disso. A garota vive em um ambiente extremamente tóxico, com uma pressão estética e comportamental vinda dos pais. 

Isso faz com que todos seus sentimentos, inclusive o que sente por sua melhor amiga, sejam reprimidos. Não há espaço para ela ser uma adolescente comum, muito menos para não ser hétero. Então, a sua única escolha é reprimir quem realmente é, transformando isso em homofobia internalizada. 

Na ilha, longe de toda a pressão e perto de tudo o que sempre tentou evitar, Shelby se vê enfrentando seu maior desafio até agora: aceitar quem realmente é. Esse processo é dolorido, especialmente por tantas marcas do passado, mas os escritores fazem um ótimo trabalho mostrando todas as nuances da aceitação.

Após muito sofrimento, alguns momentos de surto e muita espontaneidade, a garota se liberta de suas barreiras e dá espaço para uma nova e melhorada versão de si mesma. Com isso, vem outra importante questão: seus sentimentos por Toni.

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Por todo seu histórico, admitir que sente algo por sua colega não é algo fácil. Mesmo assim, após muito relutar, mesmo depois de terem dado um primeiro beijo, Goodkind consegue se libertar de todas suas amarras e viver plenamente como quer ser, ao lado da garota que gosta.

Histórias como a de Shelby Goodkind são muito comuns na vida real, mas dificilmente representadas na mídia. É importante entender que os processos de aceitação das pessoas são diferentes, e muito afetados pelos meios em que vivem.

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“The Wilds” faz um trabalho exemplar em mostrar que, para muitos, é difícil enfrentar as barreiras que impedem de sermos nossa versão mais verdadeira, mas que, apesar disso, no final tudo vale a pena.

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