No dia 3 de março de 2016 perdíamos uma das personagens mais memoráveis e lembradas da dramaturgia, pelo menos para o público LGBTQ+. Há três anos, dois meses e dezoito dias perdíamos a nossa Heda Lexa (Alycia Debnam-Carey).
A infeliz morte desta personagem trouxe consigo consequências e inúmeros movimentos que fizeram com que produções futuras revissem o modo como tratavam as histórias dos seus personagens LGBTQ+. Houve um avanço, mesmo que ainda pequeno, em relação a isto, mas primeiro vamos falar sobre como era o mundo antes de Lexa.
A morte da comandante dos doze clãs deu início ao fim (pelo menos assim espero) da péssima representação que o público queer estava recebendo. Antes, uma boa parte dos personagens LGBTQ+ serviam como alívio cômico, para ocupar espaço, e ter um fim trágico e sem sentido quando os produtores e roteiristas não sabiam mais o que fazer com eles. Não que não haja nos primórdios da história da dramaturgia personagens que tiveram seu final feliz, sim eles existiram, mas foram poucos.
Lembro-me bem da morte da personagem Shay (Lauren German) na série “Chicago Fire” lá em 2014 como se fosse hoje. Todo o esquadrão de bombeiros entrou em um prédio em chamas e ela foi a única que não saiu viva de lá. Até tentei prosseguir assistindo a série, mas não era mais a mesma coisa, não que a mesma fosse bem explorada e tivesse uma história incrivelmente interessante, ela era um daqueles casos onde só estava lá para dizer que tinha pelo menos um personagem LGBTQ+ na atração, mas aquela perda me tocou muito.
Mas também haviam personagens que nutriam os nossos corações com amor e uma representatividade até que quase decente e dentre elas cito Cosima (Tatiana Maslany), de “Orphan Black“, Emily (Shay Mitchell) (que foi quem me tirou do armário), de “Pretty Little Liars“, e boa parte do elenco de “The L World“, entre outras.
Mas então, Lexa surgiu em “The 100“, uma personagem feminina forte, independente, determinada e que roubou o coração da protagonista bissexual Clarke Griffin (Eliza Taylor) e ganhou o do público também. Mesmo errando, tomando decisões que nem todos aprovavam, ela sempre fazia o que era melhor para o seu povo, colocando a segurança deles acima de seus desejos.
Ela foi morta, de uma forma realmente dolorosa e marcante, e o povo decidiu não abaixar mais a cabeça para representações pobres e mortes prematuras de personagens LGBTQ+. E com isso, os produtores começaram a prestar mais atenção nas suas produções para não errarem novamente e sofrer com a represália do público.
A CW, casa de “The 100“, acredito que seja a número um quando o quesito são séries que carregam uma boa representatividade em grande parte das suas atrações. De todas as séries do canal consigo pensar em pelo menos oito que contém mulheres LGBTQ+ que, até hoje pelo menos, ainda não sofreram na mão dos seus criadores e continuam vivíssimas e importantes em seus programas.
O mundo pós-Lexa parece promissor, ainda que longe de ser perfeito. Temos um longo caminho pela frente, realmente longo, mas também temos esperança e aliados ao nosso favor, seja por trás das séries, dos filmes, das novelas. Um dia chegaremos lá.