“Tipping the Velvet” (Toque de Veludo) (exibido no Brasil pelo canal GNT), é um drama de sucesso da BBC, baseado em um romance de Sarah Waters. Em três episódios, a série mostra uma narrativa de amor entre duas mulheres no século 19. Trata-se de uma história sensual. Impecável nos cenários da época vitoriana, a boêmia londrina em 1890, o glamour, as perversões, a luxúria, a miséria e os vícios de uma sociedade. Por ser de 2002, tem uma estética de filmagem dos anos 1990 que causa certo desconforto.
A produção apresenta um romance clássico girl-meets-sapatão: a menina “hétero ingênua” entediada com sua vida que de repente conhece a lésbica; interessante e se encanta. Então Nan Astley (Rachael Stirling), a protagonista, larga o namorado, família, a cidade pequena que vive e vai com Kitty Butler (Keeley Hawes) viver de arte em Londres. A narrativa, a princípio, é previsível e depois começa a tomar rumos bizarros e curiosos até que volta para os trilhos no terceiro episódio.
Acompanhamos a carreira de Nan Astley — em um arco longo, e podemos identificar diversos marcos da vida lésbica retratados: a descoberta, a primeira paixão, a primeira vez que uma mulher quebra seu coração, os grupinhos de amigas fofoqueiras, as experimentações sexuais, a primeira vez que você quebra o coração de alguém, etc.
Em alguns momentos os episódios da série parecem bem anacrônicos. Pois sabe-se que não havia tanta liberdade assim na época e toda uma comunidade lésbica bem construída. Mas deve ser pelo fato de que essa seja uma concessão que temos que fazer, afinal, que chato seria mais um filme mostrando a realidade de uma lésbica no século XIX: apaixonada pelas amigas héteros e casada com um homem. No meio de tantas descobertas e conflitos, é possível acompanhar um novo interesse romântico de Nan: Florence (Jodhi May) uma feminista (vejam só que inesperado).
O lado técnico
Situado na Inglaterra vitoriana, “Tipping the Velvet” é exuberante, bonito e comovente às vezes. Cada episódio é um capítulo na vida de Nan e cada um é tecnicamente diferente dos outros. No entanto, juntos, faz uma história completa. A trilha sonora, as filmagens, a atuação e a edição foram perfeitas, nunca fazendo você se sentar e dizer “eu estava assistindo um filme”.
Esta é uma jornada maravilhosa que toda lésbica deveria embarcar com Nan Astley. A trama nos prende de uma forma muito gostosa e alguns momentos até parece que era fácil ser mulher e lésbica no século 19. O toque de fantasia é a chave para o sucesso desta série, sem sombra de dúvidas.
Os contras
Eu gostaria que eles tivessem adaptado os outros trabalhos de Sarah Waters, assim como eles fizeram este. Em alguns momentos a narrativa parece mais fantasia do que realista, mas tirando esses pequenos deslizes tem um roteiro espetacular.