“Crazy Ex-Girlfriend” é, para mim, uma daquelas obras que tudo que você deseja é que tivesse um maior reconhecimento pelo público em geral. Desde a sua estreia em 2015, a série veio conquistando prêmios e aclamações, estamos falando de uma serie da CW que tem no currículo um Globo de Ouro de Melhor Atriz de Comédia, gente! Isso é MUITA COISA.
Co-criada por Rachel Bloom e Aline Brosh McKenna, a trama mostra a jornada de Rebecca Bunch (Bloom), uma advogada bem sucedida em Nova York que, durante uma crise emocional, descobre que seu ex namorado de adolescência vive na pequena West Covina, Califórnia, e resolve largar tudo para ir atrás do que ela julga ser a fonte da sua felicidade. Ele mesmo… Josh Chan (Vincent Rodriguez III).
Talvez o fato de ser uma comedia romântica musical na CW, com um nome extremamente clichê, seja o principal motivo da resistência do grande público para com a série, mas a verdade é que o nome e o formato são apenas mais uma das nuances de quebra de estereótipos que a produção se propõe. Se o nome logo te faz lembrar todas aquelas histórias que os homens contam sobre suas ex namoradas loucas, desta vez temos a chance de ver o outro lado da história: você não só conhece a “ex namorada louca”, você acompanha a sua história, você entende as suas motivações. Sim, talvez ela seja mesmo louca, mas existe uma logica por trás da loucura e sim, todos nós temos um pouquinho disso.
Entretanto, não podemos esquecer que estamos falando de uma série sobre saúde mental, então temas como alcoolismo, depressão, obsessão, ansiedade, TOC, dificuldade de diagnóstico e até suicídio, mesmo que seja em forma de sátiras, números musicais e muito humor impróprio, são parte desta narrativa.
Um fator muito importante na produção é o retrato das amizades entre mulheres, o que torna “Crazy Ex-Girlfriend” uma das séries mais positivas neste quesito na atualidade, pois seja na relação quase maternal da protagonista com Paula (Donna Lynne Champlin), um incrivelmente bem desenvolvido enemies to friends com Valencia (Gabrielle Ruiz) ou até “a gente não tem nada a ver mas estamos sempre aqui uma pela outra” com a Heather (Vella Lovell), este grupo de mulheres se tornaram a base da vida de Rebecca, são essas pessoas que estão com ela, nos momentos mais loucos e também nos mais difíceis.
A criação de Bloom e McKenna também consegue ser muito inclusiva em quesitos como religião, cor e sexualidade. Seja respeitando a religião de Rebecca, ou as tradições filipinas de Josh, não tratando o peso de Paula como um problema, ou com a presença de pessoas de cor, CEG faz questão de estabelecer um grupo bem heterogêneo que são um retrato da sociedade atual. Destaque para quando temos a chance de ver Daryl (Pete Gardner) se descobrir bissexual ao se interessar pelo, declaradamente gay, White Josh (David Hull) e ainda performar o hino de auto afirmação “Gettin’ Bi”. Pensa comigo, gente, em tempos que as mídias ainda tem dificuldade de lidar com os personagens ou até com o termo bissexual, CEG fez UMA MUSICA INTEIRA SOBRE ISSO!
Bom, caso você não tenha percebido até aqui, estamos falando de um musical! Todos os episódios da série contém pelo menos duas músicas originais. Sim, ORIGINAIS! Não é aquela vibe “Glee” de covers (nada contra, amo “Glee”, beijo “Glee”!), mas os números musicais de CEG servem, em muitas vezes, para ilustrar os dramas internos vividos por cada um dos personagens. E para isso a produção conta com um time de atores, cantores e compositores talentosíssimos. Destaque para Santino Fontana que interpreta um dos interesses amorosos da protagonista, o sarcástico e frustrado Greg Serrano e é nada mais, nada menos do que o PRÍNCIPE HANS DE “FROZEN”!!!
Para quem, como eu, ama música POP, ainda é divertidíssimo tentar achar as muitas referências que são utilizadas em números como “Put Yourself First”, “Felling Kinda Naugthty”, ou “The First Penis I Saw” (sim, é esse mesmo o nome da música). Além de tudo, a canção de abertura muda toda temporada porque ela é diretamente ligada a jornada da Rebecca durante aqueles episódios. 😉
Honestamente? VÁRIOS HINOS!
Em resumo, “Crazy Ex-Girlfriend” é uma série inteligente, que consegue ser inclusiva e divertida, mesmo tratando de assuntos pesados ligados a saúde mental, dramas amorosos com críticas políticas e sociais. Tudo trabalhado no sarcasmo e é claro, na música. Com a sua quarta e última temporada confirmada, a produção volta a grade da CW dia 12 de outubro e os três primeiros anos já estão disponíveis na Netflix Brasil.
Curiosidades:
O elenco da série chegou a fazer uma tour pelos Estados Unidos no início deste ano, onde eles cantavam as músicas das série. A “Crazy Ex Live” esgotou os ingressos de todas as cidades que passaram.
Brittany Snow (“Pitch Perfect”), Josh Groban, Patti Lupone e Amber Riley (“Glee”) são algumas das participações especiais que já soltaram a voz na série.
Rachel Bloom também escreveu “Super Friend”, interpretada por Grant Gustin e Melissa Benoist, para o crossover musical de “Supergirl” e “Flash”.
Por várias vezes a narrativa quebra a “quarta parede” e fala dela mesmo como uma série de TV, usando palavras como temporadas, audiência, episódios e brinca com cortes de orçamentos, como na performance de “Who’s The New Guy?”.
Todas as músicas de CEG estão disponíveis no Spotify.