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Resenha | Minha experiência lésbica com a solidão – um mangá sobre a busca por acolhimento

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Ficha Técnica
Livro: Minha experiência lésbica com a solidão
Autora: Kabi Nagata
Tradutor: 
Thiago Nojiri
Editora: NewPop
Número de Páginas: 144
Ano de Lançamento: 2019


“Aos vinte e oito anos de vida, sem nunca ter tido um relacionamento amoroso e muito menos experiências sexuais (e de quebra nunca ter tido a carteira assinada), numa tarde de junho de 2015, fiquei de frente com uma prostituta lésbica.”

É assim que começa o mangá “Minha experiência lésbica com a solidão”, da mangaká Kabi Nagata. Publicado originalmente em um site de arte, a obra autobiográfica foi muito bem recebida pelo público e crítica chegando a ganhar o Harvey Awards como Melhor Mangá em 2018.

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A história começa com Kabi desistindo da faculdade após o primeiro semestre. Desesperada por encontrar um lugar para pertencer e ser aceita, ela começa sua busca por trabalho. Nesse processo desenvolve depressão e distúrbios alimentares que prejudicam a sua saúde física a ponto da necessidade de internação. Acompanhamos então os anos seguintes de sua vida, suas mudanças de emprego, sua relação com os pais, com ela mesma e também com a própria sexualidade.

A temática central do mangá é a solidão e a busca pelo sentimento de pertencimento. Kabi não se sente confortável em sua família porque sabe que não está atendendo às expectativas dos pais. Ela consegue perceber, depois de um tempo, que vive em uma constante briga entre o seu “eu verdadeiro” e o “eu que quer agradar os pais”. Ser essa versão que faz tudo aquilo que eles querem é desgastante e só contribui para a piora de sua saúde mental e física. Agradá-los, no entanto, se mostra uma tarefa impossível. Em determinados momentos da história, em que ela consegue se estabilizar arrumando um emprego e fazendo planos para o futuro, percebemos que eles não só não dão o mínimo suporte emocional como ainda diminuem suas conquistas e esforços.

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Ao ler um livro sobre distúrbios psicológicos em crianças ela consegue entender mais da sua relação com sua mãe e sua própria necessidade de acolhimento. Ela cita então a vontade de ser abraçada por uma mulher mais velha, e como esse abraço seria a única coisa que consertaria uma dor no coração. Somos levados à jornada de descobrimento da sexualidade da escritora, que passa por sua primeira experiência sexual com uma profissional do sexo.

A história de Kabi, apesar do teor dramático, é contada de maneira leve. Em certos momentos é possível esquecer que estamos lendo sobre assuntos tão sérios como automutilação e distúrbios alimentares. Boa parte da leveza do mangá se deve à arte da autora. “Minha experiência lésbica com a solidão” é desenhado com um estilo simples e em uma paleta monocromática rosa. Cenas de sexo não são explícitas, mas representadas de forma cartunesca, com expressões faciais exageradas, também não é mostrado de forma erótica ou até mesmo fetichizado, mas como uma forma de conexão com outras pessoas, que vai além do ato sexual em si.

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O relato de Kabi Nagata é sensível, vulnerável e o resultado da autorreflexão da autora. A experiência dela é similar à de muitas pessoas LGBTQIA+ que precisam reprimir seus “eu verdadeiros” em busca da aceitação dos pais. O sentimento de culpa que ela sente por não se adequar ao que é esperado dela em relação à sua carreira e vida adulta também é compartilhado com pessoas jovens, LGBTQIA+ ou não, que estão tentando se encontrar e desenvolver em um cenário profissional e econômico cada vez mais desafiador. 

Kabi Nagata continua a contar sua história nos mangás “My solo exchange diary”, “My alcoholic Escape from reality” e “My wandering warrior existence”, continuações que ainda não foram publicadas no Brasil.


Alerta de gatilho: Depressão, automutilação, distúrbios alimentares, suicídio.


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Bombando

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