Ainda no clima das Olimpíadas (passou rápido demais, certo?), precisamos falar de “4×100 – Correndo Por Um Sonho” (2021). O longa nacional, dirigido por Tomás Portella, apresenta diversas camadas e acompanha a história de Adriana (Thalita Carauta), Maria Lúcia (Fernanda de Freitas), Jaciara (Cintia Rosa), Rita (Roberta Alonso) e a novata Sofia (Priscila Steinman), atletas de revezamento 4×100 (esporte feito por quatro corredores que devem, após 100 metros, passar um bastão de um para o outro até a finalização de uma volta).
O filme é ambientado em dois momentos: o primeiro sendo em 2016, durante as Olimpíadas no Rio de Janeiro, que se inicia com Maria Lúcia claramente tendo uma crise nervosa em segredo, logo antes de entrar na pista com as colegas, Adriana, Rita e Jaciara e encarar a multidão. Por seu estado psicológico abalado, a garota falha no momento em que deveria iniciar a corrida, fazendo com que Adriana errasse o passe de bastão, deixando-o cair no chão. A partir disso, passamos para 2020, em um mundo sem pandemia e que, consequentemente, se prepara para o início dos jogos olímpicos em Tóquio.
Após a derrota na última corrida, Adriana passa a viver de lutas clandestinas de MMA em um subúrbio, por ter sido apontada como motivo do fracasso, enquanto Maria Lúcia (uma mulher de beleza “padrão” e de classe média) continua sua carreira em uma vida bem-sucedida com publicidades e apoio, porém também carregada de culpa.
Podemos dizer que “4×100 – Correndo Por Um Sonho” traz uma abordagem clichê de filmes sobre esportes, mas ainda assim, por ser uma temática pouquíssimo abordada entre as obras nacionais, a não ser que seja sobre o futebol masculino, apresenta um trabalho muito eficaz com diálogos orgânicos, atuações impecáveis e uma fotografia que nos faz partilhar da sensação de ansiedade e adrenalina das personagens. Além disso, outras problemáticas são inseridas à história de uma forma realista, como o machismo no mundo esportivo; a pressão que uma mulher sofre sobre ter filhos, mesmo quando essa mesma mulher não os quer e já possui sua vida completa pela profissão; e, também, algo que foi de fato muito discutido durante as Olimpíadas em Tóquio, que é a pressão e preservação psicológica dos competidores.
Tratando-se do casal Adriana (ou Dri) e Maria Lúcia, é indiscutível que a admirável atuação garantiu uma química forte entre as personagens, mas, infelizmente, deixou de entregar um contato maior em momentos que isso teria sido totalmente plausível. Ficamos apenas com insinuações, conversas e olhares entre as protagonistas, talvez por um receio por parte da produção de contrariar os conservadores.
“4×100 – Correndo Por Um Sonho” está disponível no GloboPlay e Telecine e, sem dúvidas, junto aos nossos atletas Olímpicos, resgata um bom sentimento em relação ao verde e amarelo, antes roubado por um posicionamento político extremista.